A LÍNGUA-LINGUAGEM COMO ENCRUZILHADA: Desafios e implicações tradutórias de um conceito decolonial em elaboração
https://doi.org/10.29327/232521.8.2-6
Palavras-chave:
Língua; gramatização; Diáspora negra; pesquisas linguísticas; sujeitos.Resumo
Esta fase do processo de descolonização que estamos vivenciando tanto em África como nas Américas, tem colocado uma série de questões emblemáticas tanto de ordem prática quanto teórica. A discussão que este ensaio promove, se inscreve, no território da decolonialidade, como uma forma de reflexão sobre a concepção de língua e de linguagem que orientam pesquisas voltadas para as línguas que sobreviveram a política de apagamento, sobretudo, com o processo de gramatização das línguas europeias que determinou ainda a forma como a ciência da linguagem, nomeada de Linguística no final do século XVIII e início do XIX, constituiu-se enquanto disciplina, em termos foucaultianos. O processo de gramatização se refere à tecnologia linguística usada pelos europeus para dominar outras culturas do planeta, subvertendo a ecologia da comunicação humana, conforme advoga Auroux (1992). Este processo utilizou a produção de dicionários e de gramáticas tantos das línguas europeias quanto de outras línguas em que era preciso negociar. Portanto, é um trabalho que procurou encontrar um conceito de língua que se encontra fora do esquema ocidental. Em outros termos, a ideia aqui é mobilizar um conceito de língua-linguagem que expresse o pensamento e a cosmovisão da Diáspora negra africana com suas emanações ancestrais para que os pesquisados não sejam apenas objetos de pesquisa, mas sujeitos de suas falas, tendo um conceito mais coerente com a sua cosmovisão e com suas realidades linguísticas nesses passos de retomada que estamos dando nesta fase da descolonização.
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